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Arquitetos: Izaskun Chinchilla Architects
- Área: 384 m²
- Ano: 2019
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Fotografías:Imagen Subliminal (Miguel de Guzmán + Rocío Romero),
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Fabricantes: Maisons du Monde
Um coworking com um jardim secreto que presta uma homenagem ao modernismo do bairro Gràcia
Até o século XVIII, o bairro Gràcia era um povoado rural articulado por "masías", casas rurais dispersas típicas da Catalunha, conventos religiosos e casas que a alta burguesia de Barcelona usava para o verão. A partir do século XIX, com a Segunda Revolução Industrial e a demolição das muralhas medievais que cercavam Barcelona, o bairro tornou-se peça chave da expansão urbana da cidade. Os antigos campos de cultivo foram convertidos em áreas para construir e instalar novas indústrias. A urbanização do Paseo de Gràcia, lugar favorito para os passeios de domingo da burguesia, levou o bairro a ser definitivamente incorporado à Barcelona em 1897.
Apesar das novas indústrias, o bairro manteve seu caráter rural por mais de dois séculos e, ainda hoje, sobrevivem fontes, pátios, casas e edifícios que mostram que, há algum tempo, Gràcia era um pequeno município semi-agrícola. Além dos elementos rurais, Gràcia tem um patrimônio modernista de enorme interesse. O modernismo se estende de Lesseps a Jardinets pela rua Rambla del Prat ou Carolines. São edifícios desconhecidos do público em geral, mas de inegável beleza e originalidade. Apenas a 150 metros do nosso terreno, a 2 minutos de passeio a pé por agradáveis e pequenas ruas sombreadas, encontra-se a recém-renovada Casa Vicens, de Antoni Gaudi, declarada Patrimônio Mundial pela Unesco.
A Casa Vicens, construída entre 1883 e 1885, quando Gaudi tinha apenas 31 anos, é considerada a primeira obra completa do arquiteto. A casa é imensamente rica em decorações inspiradas na natureza, exibe um amplo catálogo de soluções de cerâmica artesanais e estabelece uma bela relação com o jardim, através de uma arquibancada protegida do sol poente. O nosso coworking foi inspirado no bairro de Gràcia, nas suas origens rurais pré-existentes, na sua própria arquitetura modernista e na Casa Vicens. Um dos vestígios mais evidentes desta inspiração é a cuidadosa cerâmica que envolve o edifício na sua fachada e interiores. Nossa equipe de arquitetos realizou uma pesquisa exaustiva para garantir que as cerâmicas atuais, ecológicas, de grande qualidade e de fácil manutenção, apresentem, com o tempo, uma aparência artesanal.
Foram escolhidas cerâmicas de aparência natural, algumas em tons de argila que mostram a matéria-prima original com proteções semivitrificadas aplicadas à mão, lembrando os vasos para beber água e cerâmicas que foram feitas quando Gràcia foi anexado à Barcelona, peças únicas onde as mãos daqueles que as produziram ainda estão presentes. A inspiração da natureza nos espaços interiores é outro aspecto que liga o nosso coworking à tradição modernista local. A iluminação e a fiação, os corrimãos, os acabamentos de parede, a sinalização e os elementos de localização foram inspirados pela geometria, cor e lógica material das árvores.
Cada visitante irá gradualmente descobrir árvores escondidas no espaço, sendo possível até mesmo convidar os visitantes a descobri-las. Mas a ligação com a natureza não se limita a uma semelhança visual. O projeto levou em consideração os padrões de sustentabilidade mais avançados. O edifício apresenta uma grande quantidade de painéis solares, capazes de cobrir uma parte importante das necessidades de energia e utiliza meios passivos de ventilação para evitar o uso de ar condicionado. A escada, no centro da planta baixa, termina no telhado com uma grande claraboia envidraçada e uma chaminé solar que garantem a renovação do ar de forma natural, evitando a entrada de ruído do meio externo pelas fachadas.
Todos estes elementos, juntamente com a pequena escala do edifício, concebidos para abrigar uma comunidade seleta que estabeleça laços estreitos, proporcionam uma ambiência interna única, descontraída, acolhedora e natural. O coworking parece estar muito longe do estresse produtivo de outros lugares em Barcelona. O jardim secreto, voltado para o sul e dentro de um pátio intermo, apresenta uma árvore de clementina (que dá nome ao espaço) e completa esta oferta especialmente indicada para quem acredita que trabalhar com paixão requer momentos de calma e descompressão diariamente e para os que estão convencidos de que lidar com inovação também requer o retorno às raízes do que temos sido como comunidade e como cultura.